domingo, 15 de novembro de 2009

Até agora foi assim...

Entretanto, seremos ainda cientistas,se nos desligarmos da multidão?Os movimentos dos corpos celestes se tornaram mais claros;mas os movimentos dos poderosos continuam imprevisíveis para os seus povos;A luta pela mensuração do céu foi ganha através da dúvida; se os cientistas, intimidados pela prepotência dos poderosos, acham que basta amontoar saber, por amor do saber, a ciência pode ser transformada em aleijão, e as suas novas máquinas serão novas aflições, nada mais. Com o tempo, é possível que vocês descubram tudo o que haja por descobrir, e ainda assim o seu avanço há-de ser apenas um avanço para longe da humanidade.
A FINALIDADE DA CIÊNCIA
E assim se continua entre muitas leituras, um infindar de livros e espaços on-line. O tempo é muito curto, o trabalho é muito. E leio e releio, apontamentos à frente, escrita atrás e se continua no trilho da descoberta. Paradigmas, métodos, técnicas, amostras, inquéritos, vantagens, desvantagens e aqui se vão tecendo momentos de trabalho, aqui vou tentando juntar informação que fui captando aqui e ali. Avaliando a esta altura o que se foi fazendo... creio que vou conseguindo amealhar palavras, frases, raciocínios, opiniões que me vão sendo úteis porque estão sintetizadas. Aqui consigo reter o que escrevo, onde vou buscar, como vou fazendo. O tempo tem sido sempre muito pouco, para mim e para todos, mas sei que este tempo é necessário, para o ano vou sentir isso. Vou continuar nas minhas leituras, vou continuar a tecer opiniões e a constituir este espaço com mananceais de descoberta. O tempo passa, o conhecimento aumenta...
Paula

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O questionário como método de recolha de dados – análise de uma tese



O questionário é um instrumento de investigação, mais precisamente para recolha de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. O questionário pode ser enviado por correio ou por um portador, sendo entretanto devolvido ao investigador. Junto com o questionário deve ser enviada uma nota explicativa da natureza da pesquisa, da sua importância, tentando-se captar o interesse do recebedor em responder e devolver em prazo solicitado.
Imagino que será para o pesquisador uma questão delicada, a da devolução dos questionários respondidos, se sentir que não os recebe. Selltiz (1965) aponta como factores possíveis que influenciam a recepção dos questionários respondidos a forma atraente, a extensão, a nota que o acompanha, o tipo de classe de pessoas a quem é enviado, a facilidade no seu preenchimento.
Considero que seja uma técnica que possui muitas vantagens dado que economiza tempo em função do grande número de respostas obtidas e o número de pessoas a que se consegue chegar, abrange uma grande área geográfica, permite obter respostas rápidas, porque é anónimo, permite uma maior liberdade e tempo de resposta e, dada a não influência do pesquisador, há um menor risco de distorção.
No entanto, como qualquer técnica tem a meu ver alguns aspectos menos positivos. A possibilidade de um retorno muito aquém do esperado pode comprometer a investigação, pelo menos no tempo previsto. Da mesma forma, há sempre o risco de muitas perguntas sem resposta, bem como de respostas incompreendidas, entre outros que poderiam aqui ser referidas.
Acima de tudo é uma técnica que permite uma investigação muito eficaz. A sua construção e aplicação possuem uma grande objectividade, característica dos modelos quantitativos.


Análise da tese “O Papel da Internet no Processo de Construção do Conhecimento - Uma perspectiva crítica sobre a relação dos alunos do 3º Ciclo com a Internet”


Esta tese teve como objectivo de estudo geral procurar a relação entre a Internet e o conhecimento adquirido por professores e alunos. Para chegar a conclusões relacionadas com aquele objectivo, a investigadora optou pela técnica do questionário que dirigiu a escolas de duas áreas distantes em termos geográficos. Antes deste passo metodológico a autora apresenta claramente os objectivos que estiveram na base no estudo feito, e assim na base do questionário elaborado (págs. 43, 63 e 83). A amostra encontra-se identificada tendo-lhe estado subjacente, segundo a autora, a comparação entre alunos e professores do litoral e interior. Da mesma forma, a acrescentar, o facto dos professores das escolas escolhidas terem manifestado interesse em colaborar no projecto. A autora afirma ter conseguido obter todos os questionários devolvidos, o que para o trabalho dela foi muito positivo. De referir que nesta tese a validação prévia necessária do questionário foi feita a um pequeno grupo de alunos e professores, tarefa esta que levou a correcção de aspectos de forma e conteúdo. Mas há que acrescentar que em nenhum momento surgem indicações dos passos que levaram à construção do questionário. No entanto, depois de analisar as variáveis utilizadas, as questões feitas considero terem sido correctamente formuladas, mas abarcam aspectos que embora a investigadora tenha pretendido quantificar, são aspectos já passíveis de generalização em trabalhos já elaborados. Essas questões acabam por explicar o grau de simplicidade do tratamento e as conclusões a que a autora chegou. O tema pode não ter sido muito bem escolhido, dada a quantidade imensa de trabalhos na área, mas, de qualquer modo, o trabalho poderia ter tido outra vertente. Por exemplo, o estudo estar relacionado com os recursos produzidos em termos informáticos por professores e alunos ao ponto de promoverem um auto-conhecimento, e o dos outros. Dificuldades na utilização da Internet como base de elaboração de trabalho, quer ao nível do software, quer ao nível da reedição de recursos já existente. Acontece que a autora apenas utilizou para o tratamento dos dados os valores percentuais encontrados com base no programa Excel. Em termos técnicos de análise do inquérito utilizado, considero que a questão 5 limita a resposta dada. Aqui falta a hipótese “quais”, uma vez que pode acontecer nenhuma das respostas ser a pretendida e assim corre-se o risco desta questão ficar por responder.
A questão 13 carece de espaço de resposta. Se eu tivesse de responder a esta pergunta, teria dificuldades em preencher a linha dos “Quais”. A não ser que quem responde, caso o questionário se apresente em suporte electrónico possa alargar-se no conteúdo aberto da resposta.
Este inquérito inclui essencialmente questões fechadas para respostas breves, nestas questões surgem possibilidades de resposta dicotómica listagem de respostas sugeridas com opções e ou categorias. Como é fácil abarcar todas as possibilidades de resposta, o “outros” surge sempre para colmatar essa situação. Este tipo de questionário é fácil de responder, fácil de classificar e analisar, é objectivo. Este inquérito devia ter instruções claras de preenchimento, sob pena de algumas respostas ficarem por preencher. Um outro aspecto que considero menos positivo, é o aspecto visual do questionário. Se está tal e qual como se apresenta no pdf disponibilizado on.line, carece do nome do investigador, instituição a que pertence, não tem qualquer nota introdutória dada a ausência da nota explicativa. Muito mais poderia ser feito ao escamotear-se esta técnica utilizada nesta tese, nomeadamente no que se refere a escalas de medição de respostas.


Após discussão em fórum:

Das várias questões levantadas e opiniões dadas ressalvo uma, dada pelo colega Paulo Azevedo a 19 de Novembro, , que passo a citar: "Na minha opinião, pela leitura que fiz e pelas transcrições que vários colegas fizeram de partes da dissertação, a investigadora fez uma amostragem por conveniência (a existência de professores que se disponibilizaram) e, simultaneamente, uma amostragem intencional (pretende comparar resultados de diferentes localizações geográficas e de diferentes estilos de vida)." Esta questão levou-me a pesquisar mais além e encontrei mais situações de amostragem, para além das referidas pelo colega (amostragem por conveniência, quotas, intencional e bola-de-neve).

Na wikispaces, de Clara Coutinho um método de amostragem que me fez perceber que nesta tese também podia ser tido em consideração, foi o "Clusters", que usa agrupamentos naturais de elementos da população, nos quais cada elemento da população pertence a um só grupo. A acrescentar que, se tivermos em conta, segundo a mesma autora, a amostragem multi-etápica, então eu refiro que esta investigadora usou o cluster “zona geográfica” Porto e Bragança, depois o cluster escolas escolhidas e aqui se verifica um misto com a amostragem por conveniência, na amostra "professores" e de novo o cluster “8º e 9º ano”. Ou seja, a amostragem leva a cada elemento da amostra finalmente, por conveniência aos 110 professores e aleatoriamente, de certa forma, aos 350 alunos que, se forem alunos dos professores voluntários então mais uma vez vou pela ideia da amostragem por conveniência.

Também me dei conta de que a amostragem por conveniência não é representativa da população. Ocorre quando a participação é voluntária ou os elementos da amostra são escolhidos por uma questão de conveniência. Pode ser usada com êxito em situações nas quais seja mais importante captar ideias gerais, identificar aspectos críticos do que propriamente a objectividade científica (terá sido o caso desta investigação?). Contudo, o método tem a vantagem de ser rápido, barato e fácil.


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Marconi, Marina et al. (1992). Técnicas de Pesquisa. São Paulo
Selltiz, C. e tal. (1965). Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo
Repusitorium- http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/6191 (acedido em 11 de Novembro de 2009)
EL CUESTIONARIO - http://www.nodo50.org/sindpitagoras/Likert.htm (acedido em 11 de Novembro de 2009)

Métodos e Técnicas de Amostragem - http://claracoutinho.wikispaces.com/M%C3%A9todos+e+T%C3%A9cnicas+de+Amostragem (acedido em 19 de Novermbro de 2009)


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En resposta ao comentário do Paulo:

O método por clusters acaba por ser um método relacionado com agrupamentos. No caso em estudo, considero como clusters cada escola, distante das outras em termos geográficos. A autora “pegou” aqui em grupos, as escolas, os clusters que possuem semelhanças em termos de indivíduos a serem inquiridos, todas elas possuem alunos e professores. A análise por clusters é uma análise que não faz suposições com relação ao número de grupos ou às suas estruturas; o agrupamento é feito com base nas similaridades ou dissimilaridades . Em resumo ela tem como objectivo básico descobrir os agrupamentos naturais dos itens (ou variáveis). Ou seja, a investigadora pretender saber também até que ponto a localização geográfica interfere no estudo em questão.

Métodos e instrumentos de recolha de dados

A fase da recolha de dados, sejam eles fontes bibliográficas ou de outra natureza, é a fase mais demorada e a que exige mais dedicação, cuidado e atenção por parte do investigador. Para cada metodologia usada há indicações específicas quanto à recolha de dados, bem como quanto ao seu tratamento. O rigoroso controlo na aplicação dos instrumentos de pesquisa é um factor fundamental para evitar erros e defeitos que resultem numa investigação errada.

Métodos de recolha de dados:

- Análise de conteúdo de dados documentais : nesta técnica há que ter especial cuidado à acessibilidade e confidencialidade dos documentos, que poderá impedir o seu acesso. Também se deve ter em conta a veracidade daqueles. Estes documentos podem ser fontes oficiais, fotografias ou cartas (fontes primárias) ou obras já elaboradas como livros ou monografias (fontes secindárias)

- Inquéritos: trata-se de um conjunto de questões pré-formuladas. Deve ser utilizado quando o investigador sabe exactamente que informações necessita ou quando +e grande a quantidade de pessoas a incluir no estudo e estas se encontram distanciadas geograficamente. A informação é obtida facilmente e é facilmente codificada. Num inquérito a linguagem utilizada é muito importante, simples e clara.

- Entrevistas : quando feitas pessoalmente permitem uma adaptação e mudança em face do contexto. Podem também facilmente ser esclarecidas dúvidas. É necessário ter um plano para a entrevista para que no momento em que ela estiver a ser, realizada as informações necessárias não deixem de ser colhidas. As entrevistas podem ter o caráter exploratório ou ser de coleta de informações. Se a de caráter exploratório é relativamente estruturada, a de coleta de informações é altamente estruturada. São, no entanto,

- custosas;
- passíveis de diferentes interpretações de entrevistado para entrevistado;
- as respostas podem ser condicionas pela inflexão de voz ou condicionantes ligadas ao entrevistador.

Se a entrevista for feita pelo telefone, as condicionantes são ainda maiores, quer pelo desconforto da situação, quer pela quantidade necessária de telefonemas por dia. Aqui o tempo pode ser uma limitação e até mesmo haver uma negação pelo entrevistado de se submeter à entrevista

- Estudos por observação : podendo ser participante. Não participante, estruturada ou não, antes de ser iniciada, precisa de uma verificação do lugar e reflexão sobre os fenómenos a serem registados. A amostra pode ser maior a baixo custo e podem ser estudados comportamentos não verbais. No entanto, é mais fatigante para o observador.

Actualmente, a Internet apresenta-se como uma forma de recolha de dados revolucionária e facilitadora. No entanto, os perigos não devem ser colocados de lado, como os critérios de manutenção de qualidade de informação. O manancial informativo é imenso e cabe ao investigador ter o máximo cuidado nos conteúdos que utiliza da rede global.

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Azevedo, Carlos et al (1998). Metodologia Científica: Contributos práticos para a elaboração de trabalhos académicos. Ed.C. Azevedo
Cohen,L., Manion, L., Morrison, K., (1994). Research Methods in Education. London: Routledge Falmer
Marconi, Marina et al. (1992). Técnicas de Pesquisa. São Paulo
Entrevista em investigação qualitativa

www.pedagogiaemfoco.pro.br/met06.htm
www.experiment-resources.com/what-is-the-scientific-method.html

domingo, 1 de novembro de 2009

Estudo de caso- parte III

Em rigor, podemos usar o termo amostra num estudo de caso?

Quando é feito estudo de caso e como caso podemos considerar um indivíduo ou um grupo, há que considerar a contextualização específica em que ele é estudado. O caso é único em si mesmo. Há que estabelecer um referencial lógico de recolha de dados (Creswell, 1994). No entanto, há que ter sempre presente que, a investigação de um caso não se baseia numa amostra (Stake, 1995). Num estudo de caso a escolha da amostra adquire um sentido muito particular (Bravo, 1998), não no sentido da amostra tida em conta num método quantitativo onde ela surge com o objectivo de se fazer um estudo que no final se possa alargar a uma comunidade de onde foi retirada. Não há intenção de se estudar um caso para o generalizar a outros casos. Assim, num estudo de caso, uma amostra, de entre um universo não faria qualquer sentido.
Embora Bravo (1992) considere seis tipos de amostras que podem ser utilizadas em estudos de caso:
1- Amostras extremas (casos únicos);2- Amostras de casos típicos ou especiais;3- Amostras de variação máxima, adaptadas a diferentes condições;4- Amostras de casos críticos;5- Amostras de casos sensíveis ou politicamente importantes;6- Amostras de conveniência.
Elas são meramente reguladoras do processo e vão provocando os devidos ajustes à “amostra” inicial. Ou seja a amostra num estudo de caso acaba por ser o próprio caso, inserido no seu contexto que lhe é particular e que se pretende explorar, descrever, explicar (Gomez, Flores & Jimenez ,1996),
Se considerarmos Amostra um subconjunto de elementos pertencentes a uma população ou universo em que a informação recolhida para essa amostra é depois generalizada a toda a população. Então eu digo que em rigor não se pode falar em amostra num estudo de caso.
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Yin, Robert K.. "Estudo de caso planejamento e métodos".São Paulo

Estudo de caso – parte II: considerações gerais

Incluído num paradigma interpretativo, o estudo de caso surge como uma abordagem metodológica de investigação (Yin (1994) que acaba por ser, põe excelência a metodologia mais adequada para compreender, descrever, explicar fenómenos da subjectiva dimensão educativa. Ponte (2006) considera que “é uma investigação que se assume como particularística, isto é, que se debruça deliberadamente sobre uma situação específica que se supõe ser única ou especial, pelo menos em certos aspectos, procurando descobrir a que há nela de mais essencial e característico e, desse modo, contribuir para a compreensão global de um certo fenómeno de interesse.”
O estudo de caso enquadra-se num plano qualitativo (paradigma interpretativo), podendo no entanto recorrer a uma metodologia mista no seu processo, como acontece com a tese analisada anteriormente.
Contrariamente à metodologia experimental, em que se manipulam variáveis por forma a chegar-se ao seu significado causal, num estudo de caso o investigador observa as características de um individuo ou grupo de modo a compreender e explicar os vários fenómenos que, num contexto caracterizam a unidade, o caso.
O estudo de caso contribui de forma inigualável para a compreensão dos fenómenos individuais, organizacionais, sociais e políticos (Yin, 1994) pois permite uma investigação que preserva as características holisticas dos fenómenos da vida real.

Benbasat et al (1987) consideram que um estudo de caso deve possuir as seguintes características:
- Fenómeno observado no seu contexto natural;
- Dados recolhidos utilizando diversos meios (Observações directas e indirectas, entrevistas, questionários, registos de áudio e vídeo, diários, cartas, entre outros);
- Uma ou mais entidades (pessoa, grupo, organização) são analisadas;
- A complexidade da unidade é estudada aprofundadamente;
- Pesquisa dirigida aos estágios de exploração, classificação e desenvolvimento de hipóteses do processo de construção do conhecimento;
- Não são utilizados formas experimentais de controlo ou manipulação;
- O investigador não precisa especificar antecipadamente o conjunto de variáveis dependentes e independentes;
- Os resultados dependem fortemente do poder de integração do investigador;
- Podem ser feitas mudanças na selecção do caso ou dos métodos de recolha de dados à medida que o investigador desenvolve novas hipóteses;

- Pesquisa envolvida com questões "como?" e "porquê?" ao contrário de “o quê?” e “quantos?”

A observação participante utilizada no estudo de caso adequa-se aos vários problemas que a investigação em educação enfrenta.
Bailey (1978) identifica vantagens para este tipo de observação
. É útil quando os dados são coletados de uma forma não verbal;
. Porque as observações em estudos de caso ocorrem durante um longo período de tempo, o investigador pode desenvolver uma relação mais intima e informal com os sujeitos observados, num contexto mais natural;
. As observações em estudos de caso são mais reactivas

No entanto como sabemos que, com este tipo de observação não se perde a perspectiva inicialmente pretendida e se perdem as particularidade que estavam a ser investigadas? É aqui que se torna importante a validação externa, é aqui que são colocadas questões sobre a subjectividade do estudo por observação participada.


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http://grupo4te.com.sapo.pt/Introducao.html
Cohen,L., Manion, L., Morrison, K., Research Methods in Education. London: Routledge Falmer
Yin, Robert K.. "Estudo de caso planejamento e métodos".São Paulo