quinta-feira, 3 de dezembro de 2009

Métodos e instrumentos de recolha de dados - Técnica da entrevista



A entrevista tem como objectivo principal a obtenção de informações de um entrevistado, sobre determinado assunto ou problema. Tem sido definida como uma conversação iniciada pelo entrevistador, com o objectivo específico de obter informação relevante para a investigação e focalizada em conteúdos específicos ligados aos objectivos da investigação.
Como uma técnica diferente de investigação, a entrevista pode servir 3 propósitos:

- como meio principal de juntar informação. O entrevistador “acede” ao que se passa na cabeça do entrevistado. Pode assim medir o que ele sabe, do que gosta ou não, e o que pensa;
- pode servir para testar hipóteses ou sugerir novas;
- pode ser usada conjuntamente com outros métodos numa investigação

Como entrevista estruturada a que me refiro, os conteúdos e procedimentos são organizados com antecedência. Isto significa que a sequência e o trabalho sobre as questões são determinados por um esquema prévio e o entrevistador não tem grande liberdade para modificações. Neste tipo de entrevista a análise de dados é facilitada e possibilita a réplica do estudo. No entanto a flexibilidade é quase nula, reduz ou anula a possibilidade de aprofundar questões que não foram previamente pensadas.

Tendo em conta o número de sujeitos entrevistados, a entrevista pode ser

Individual, quando o entrevistador tenta perceber os sentimentos ou reacções do entrevistado face a uma situação, certas circunstâncias ou experiências de vida. O entrevistado pode manifestar os seus pensamentos pelas suas próprias palavras;
Grupo – o entrevistador pode recolher dados de vários participantes e observar também as interacções e dinâmicas de grupo;
Social – teoricamente informal em que uma pessoa ou um grupo avalia e forma uma opinião acerca de um ou mais indivíduos
De painel – uma pessoa é entrevistada por várias pessoas em conjunto


Tendo em conta a estruturação

- Estruturada quando a entrevista obedece a uma estrutura prévia, mais rígida, não dando muita margem para alterações. A informação recolhida é de tipo uniforme e as questões colocadas são-no como forma previamente escritas. As categorias de respostas são previamente definidas.
- Não estruturada (livre) no sentido de conhecer a perspectiva dos participantes sobre um determinado tema. Este tema é proposto pelo entrevistador, que se desenvolve numa conversa fluida, com emersão imediata de questões.
- semiestruturada, importando a obtenção de dados comparáveis de diferentes participantes. Aqui, o guião é preparado com linhas orientadoras da entrevista, levando a que vários participantes respondam às mesmas questões. Não exige uma ordem rígida nas questões com bastante flexibilidade na sua exploração. A entrevista é adaptada ao entrevistado.

Para planear uma entrevista há que
· Seleccionar os participantes;
· Especificar as variáveis que queremos estudar;
· Elaborar as questões;
O guião da entrevista

O Guião da entrevista surge como um instrumento utilizado para recolher informações na forma de texto e serve de base à realização da entrevista em si. Como etapas, há todo um percurso a ser seguido:

Descrição do perfil do entrevistado (nível etário, escolaridade…);
Selecção da população e da amostra de indivíduos a entrevistar;
Definição do tema e objectivos da entrevista;
Estabelecimento do meio de comunicação ( oral, escrito, telefone, e.mail…), o espaço, e o momento (manhã, duração…)
Descriminação dos itens;
Elaboração do guião com boa apresentação gráfica;
Validação da entrevista pela análise e critica por indivíduos relevantes.
O processo de entrevista
numa entrevista, se verifica todo uma relacionamento humano que a psicologia cobre e explica, referindo e propondo abordagens necessárias.

O processo de entrevista é um componente muito importante da entrevista. Envolve ler nas entrelinhas, reparar como o entrevistado fala e se comporta durante a entrevista. Uma observação cuidada do processo de entrevista permite confirmar, enriquecer e por vezes até contradizer o que vai sendo dito, como o conteúdo se vai desenvolvendo.

Aspectos a que se deve estar atento ao longo da entrevista de modo a poder ser explorado o seu processo:

Se o entrevistado parece estar confiante, confuso, duvidoso ou racional;
Se o entrevistado alguma vez se contradiz;
Como os aspectos referidos pelo entrevistado se relacionam com coerência;
Em que altura o entrevistado mostra entusiasmo e emoção;
Que tipo de linguagem corporal o entrevistado demonstra;
Como é o ritmo da entrevista, se lento ou rápido, com linguagem simples ou elaborada;
Relação eventual entre a aparência do entrevistado ou do ambiente da entrevista (se relacionado com o entrevistado) e o conteúdo da entrevista

De certa forma, no processo da entrevista, é muito importante a reacção do entrevistado. O entrevistador acaba por ser usado como um “barómetro” de acesso ao entrevistado. O processo de entrevista pode provocar no próprio entrevistador determinadas reacções face a comportamentos do entrevistado, daí as reacções do entrevistador poderem variar de entrevistado para entrevistado.

Passos para conduzir uma entrevista

1. Apresentação: aqui é importante a gentileza, conjugada com o profissionalismo. Conversa casual sobre o tempo, no início pode ajudar;
2. Descrição do projecto: deve ser dito ao entrevistado quem se é, de que projecto se trata, que objectivos, que interesse pode ter, que relação tem com a entrevista e, se o entrevistado permite a gravação. Se a resposta for negativa, não deve insistir-se neste aspecto;
3. Consentimento formal : para manter uma maior validade na investigação, deve ser dado, pelo entrevistado um consentimento por escrito onde se refere a descrição do projecto e a forma como a informação da entrevista será utilizada. Poderá também ser aqui referida a vontade de gravação da entrevista e de que, eventualmente poderão ser feitas citações da conversa. O facto deste consentimento ser por escrito, dá ao entrevistado uma maior segurança em todo este processo;
4. Começar a entrevista: o objectivo é fazer com que o entrevistado expresse as suas ideias sobre determinados assuntos. O entrevistador dar-se-á conta de como lidar com as várias reacções do entrevistado. Poderá tentar ajudá-lo a expressar-se, de forma mais clara, ajudar na elaboração das ideias, na focalização do assunto.
Algumas técnicas e expressões que podem ajudar o entrevistado a expressar as duas ideias de forma clara:
A – Clarificação: ajudar o entrevistado a explicar-se de forma clara.

“ Pode dizer-me algo mais sobre….”
“ Eu não estou certo de ter entendido a parte…- pode explicar-me melhor?”

B – Reflexão: reflectir sobre algo importante que acabou de ser dito, de modo a que a ideia seja expandida.

“ Então, acredita que a depressão é hereditária.”
“ Então, discorda com o Sr….”

C – Encorajamento: Encorajar o entrevistado a seguir com uma linha de pensamento.

“ A parte sobre…é interessante. Pode dizer-me mais sobre isso?
“Acho isso fantástico!, fale-me mais…”

C- Comentários: Injectar as ideias ou sentimentos do entrevistador para estimular o entrevistado a dizer mais.

“Eu sempre achei isso…”
“ Essa parte sobre…assusta-me.”
“ Se eu estivesse nessa situação, eu faria…”

D - Estimular: Guardar algo que estimule ou desafie o entrevistado (de forma amigável) a dizer mais.

“ Mas isso não é verdade..?”
“ Mas algumas pessoas diriam…”
“ Acredita mesmo nisso?”


E – Resumir: tentar resumir as ideias do entrevistado para ver se realmente entendeu o que ele estava a dizer.

“ Então, o que está a dizer é…”
“ Então, o seu ponto chave é…”
“ Deixe-me ver se eu posso sintetizar o que acabou de dizer…”

E – Terminar a entrevista: deve ser-se sensível à agenda do entrevistado e limites de tempo. Há que tentar abrandar o diálogo em vez de terminar abruptamente. Podem resumir-se as ideias principais. Pode perguntar-se de novo se o entrevistado tem alguma questão acerca do projecto e pode também ser referido como contactar o entrevistador em caso de necessidade. Agradecer no final a ajuda prestada.

F – Tomar notas: Devem ser tomadas notas imediatamente sobre impressões da entrevista, pensamentos que a gravação não tenha captado. Estas notas poderão ajudar a lembrar e explorar o “processo” da entrevista.
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Costa, Cristina (2004). A Entrevista, Lisboa: Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa. Recuperado em 24 de Novembro, 2009, de http://www.educ.fc.ul.pt/docentes/ichagas/mi1/entrevistat2.pdf
D´Ascenção, Luiz, sd. Organização, sistemas e métodos. Recuperado em 23 de Novembro, 2009, de http://guaiba.ulbra.tche.br/~yanzer/modelagem/entrevista_e_questionario.pdf
Simões, Alcino, (2006).Como Realizar uma Entrevista. Recuperado em 26 de Novembro de 2009 de http://www.prof2000.pt/users/folhalcino/ideias/comunica/entrevista.htm
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Suler, John (1995). Teaching Clinical Psychology, Using Interviews in Research. Acedido em 28 de Novembro, 2009
http://www-usr.rider.edu/~suler/interviews.html

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