quarta-feira, 11 de novembro de 2009

O questionário como método de recolha de dados – análise de uma tese



O questionário é um instrumento de investigação, mais precisamente para recolha de dados, constituído por uma série ordenada de perguntas, que devem ser respondidas por escrito e sem a presença do entrevistador. O questionário pode ser enviado por correio ou por um portador, sendo entretanto devolvido ao investigador. Junto com o questionário deve ser enviada uma nota explicativa da natureza da pesquisa, da sua importância, tentando-se captar o interesse do recebedor em responder e devolver em prazo solicitado.
Imagino que será para o pesquisador uma questão delicada, a da devolução dos questionários respondidos, se sentir que não os recebe. Selltiz (1965) aponta como factores possíveis que influenciam a recepção dos questionários respondidos a forma atraente, a extensão, a nota que o acompanha, o tipo de classe de pessoas a quem é enviado, a facilidade no seu preenchimento.
Considero que seja uma técnica que possui muitas vantagens dado que economiza tempo em função do grande número de respostas obtidas e o número de pessoas a que se consegue chegar, abrange uma grande área geográfica, permite obter respostas rápidas, porque é anónimo, permite uma maior liberdade e tempo de resposta e, dada a não influência do pesquisador, há um menor risco de distorção.
No entanto, como qualquer técnica tem a meu ver alguns aspectos menos positivos. A possibilidade de um retorno muito aquém do esperado pode comprometer a investigação, pelo menos no tempo previsto. Da mesma forma, há sempre o risco de muitas perguntas sem resposta, bem como de respostas incompreendidas, entre outros que poderiam aqui ser referidas.
Acima de tudo é uma técnica que permite uma investigação muito eficaz. A sua construção e aplicação possuem uma grande objectividade, característica dos modelos quantitativos.


Análise da tese “O Papel da Internet no Processo de Construção do Conhecimento - Uma perspectiva crítica sobre a relação dos alunos do 3º Ciclo com a Internet”


Esta tese teve como objectivo de estudo geral procurar a relação entre a Internet e o conhecimento adquirido por professores e alunos. Para chegar a conclusões relacionadas com aquele objectivo, a investigadora optou pela técnica do questionário que dirigiu a escolas de duas áreas distantes em termos geográficos. Antes deste passo metodológico a autora apresenta claramente os objectivos que estiveram na base no estudo feito, e assim na base do questionário elaborado (págs. 43, 63 e 83). A amostra encontra-se identificada tendo-lhe estado subjacente, segundo a autora, a comparação entre alunos e professores do litoral e interior. Da mesma forma, a acrescentar, o facto dos professores das escolas escolhidas terem manifestado interesse em colaborar no projecto. A autora afirma ter conseguido obter todos os questionários devolvidos, o que para o trabalho dela foi muito positivo. De referir que nesta tese a validação prévia necessária do questionário foi feita a um pequeno grupo de alunos e professores, tarefa esta que levou a correcção de aspectos de forma e conteúdo. Mas há que acrescentar que em nenhum momento surgem indicações dos passos que levaram à construção do questionário. No entanto, depois de analisar as variáveis utilizadas, as questões feitas considero terem sido correctamente formuladas, mas abarcam aspectos que embora a investigadora tenha pretendido quantificar, são aspectos já passíveis de generalização em trabalhos já elaborados. Essas questões acabam por explicar o grau de simplicidade do tratamento e as conclusões a que a autora chegou. O tema pode não ter sido muito bem escolhido, dada a quantidade imensa de trabalhos na área, mas, de qualquer modo, o trabalho poderia ter tido outra vertente. Por exemplo, o estudo estar relacionado com os recursos produzidos em termos informáticos por professores e alunos ao ponto de promoverem um auto-conhecimento, e o dos outros. Dificuldades na utilização da Internet como base de elaboração de trabalho, quer ao nível do software, quer ao nível da reedição de recursos já existente. Acontece que a autora apenas utilizou para o tratamento dos dados os valores percentuais encontrados com base no programa Excel. Em termos técnicos de análise do inquérito utilizado, considero que a questão 5 limita a resposta dada. Aqui falta a hipótese “quais”, uma vez que pode acontecer nenhuma das respostas ser a pretendida e assim corre-se o risco desta questão ficar por responder.
A questão 13 carece de espaço de resposta. Se eu tivesse de responder a esta pergunta, teria dificuldades em preencher a linha dos “Quais”. A não ser que quem responde, caso o questionário se apresente em suporte electrónico possa alargar-se no conteúdo aberto da resposta.
Este inquérito inclui essencialmente questões fechadas para respostas breves, nestas questões surgem possibilidades de resposta dicotómica listagem de respostas sugeridas com opções e ou categorias. Como é fácil abarcar todas as possibilidades de resposta, o “outros” surge sempre para colmatar essa situação. Este tipo de questionário é fácil de responder, fácil de classificar e analisar, é objectivo. Este inquérito devia ter instruções claras de preenchimento, sob pena de algumas respostas ficarem por preencher. Um outro aspecto que considero menos positivo, é o aspecto visual do questionário. Se está tal e qual como se apresenta no pdf disponibilizado on.line, carece do nome do investigador, instituição a que pertence, não tem qualquer nota introdutória dada a ausência da nota explicativa. Muito mais poderia ser feito ao escamotear-se esta técnica utilizada nesta tese, nomeadamente no que se refere a escalas de medição de respostas.


Após discussão em fórum:

Das várias questões levantadas e opiniões dadas ressalvo uma, dada pelo colega Paulo Azevedo a 19 de Novembro, , que passo a citar: "Na minha opinião, pela leitura que fiz e pelas transcrições que vários colegas fizeram de partes da dissertação, a investigadora fez uma amostragem por conveniência (a existência de professores que se disponibilizaram) e, simultaneamente, uma amostragem intencional (pretende comparar resultados de diferentes localizações geográficas e de diferentes estilos de vida)." Esta questão levou-me a pesquisar mais além e encontrei mais situações de amostragem, para além das referidas pelo colega (amostragem por conveniência, quotas, intencional e bola-de-neve).

Na wikispaces, de Clara Coutinho um método de amostragem que me fez perceber que nesta tese também podia ser tido em consideração, foi o "Clusters", que usa agrupamentos naturais de elementos da população, nos quais cada elemento da população pertence a um só grupo. A acrescentar que, se tivermos em conta, segundo a mesma autora, a amostragem multi-etápica, então eu refiro que esta investigadora usou o cluster “zona geográfica” Porto e Bragança, depois o cluster escolas escolhidas e aqui se verifica um misto com a amostragem por conveniência, na amostra "professores" e de novo o cluster “8º e 9º ano”. Ou seja, a amostragem leva a cada elemento da amostra finalmente, por conveniência aos 110 professores e aleatoriamente, de certa forma, aos 350 alunos que, se forem alunos dos professores voluntários então mais uma vez vou pela ideia da amostragem por conveniência.

Também me dei conta de que a amostragem por conveniência não é representativa da população. Ocorre quando a participação é voluntária ou os elementos da amostra são escolhidos por uma questão de conveniência. Pode ser usada com êxito em situações nas quais seja mais importante captar ideias gerais, identificar aspectos críticos do que propriamente a objectividade científica (terá sido o caso desta investigação?). Contudo, o método tem a vantagem de ser rápido, barato e fácil.


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Marconi, Marina et al. (1992). Técnicas de Pesquisa. São Paulo
Selltiz, C. e tal. (1965). Métodos de pesquisa nas relações sociais. São Paulo
Repusitorium- http://repositorium.sdum.uminho.pt/handle/1822/6191 (acedido em 11 de Novembro de 2009)
EL CUESTIONARIO - http://www.nodo50.org/sindpitagoras/Likert.htm (acedido em 11 de Novembro de 2009)

Métodos e Técnicas de Amostragem - http://claracoutinho.wikispaces.com/M%C3%A9todos+e+T%C3%A9cnicas+de+Amostragem (acedido em 19 de Novermbro de 2009)


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En resposta ao comentário do Paulo:

O método por clusters acaba por ser um método relacionado com agrupamentos. No caso em estudo, considero como clusters cada escola, distante das outras em termos geográficos. A autora “pegou” aqui em grupos, as escolas, os clusters que possuem semelhanças em termos de indivíduos a serem inquiridos, todas elas possuem alunos e professores. A análise por clusters é uma análise que não faz suposições com relação ao número de grupos ou às suas estruturas; o agrupamento é feito com base nas similaridades ou dissimilaridades . Em resumo ela tem como objectivo básico descobrir os agrupamentos naturais dos itens (ou variáveis). Ou seja, a investigadora pretender saber também até que ponto a localização geográfica interfere no estudo em questão.

4 comentários:

  1. Olá Paula,
    gostei dessa abordagem dos clusters. Hill e Hill fazem também essa abordagem, mas incluem o método de amostragem por clusters dentro da categoria dos métodos de amostragem causais. Eles explicam que na amostragem por clusters o investigador extrai "uma amostra aleatória de unidades e depois utiliza todos os casos dessas unidades". Como os alunos que responderam aos questionários são, em princípio, alunos próximos dos professores que se disponibilizaram, a aleatoriedade da amostra cai por terra, pelo não os incluiria nessa categoria de amostragem por clusters. Identificaria com mais convicção, seguindo a nomenclatura de Hill e Hill, com a amostragem por quotas.

    Paulo Azevedo

    Hill, M., Hill, A. (2008). Investigação por Questionário (2ª Ed.). Lisboa: Edições Sílabo.

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